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  • Foto do escritorJulia Melo

[Resenha] Coisas Nossas, Luiz Antonio Simas



Um presente à cultura popular, do coautor de Dicionário da história social do samba, vencedor do Jabuti de melhor livro de não ficção em 2015, Coisas nossas, de Luiz Antonio Simas, é uma reunião de crônicas que celebra a cultura de rua do Rio de Janeiro, em especial da Zona Norte e do subúrbio. Segundo o autor, “os textos são uma espécie de roteiro sentimental de uma cidade que talvez nunca tenha existido, mas que certamente vive em mim”. Simas faz de seus textos uma conversa com o leitor, mostrando as trajetórias de gente comum. Em curtas narrativas focadas nos personagens, transita por uma espiral de causos curiosos que envolvem desde Gerson, um dos maiores pipeiros, ao nada comum funcionário exemplar de Dom João.O autor alinha a paixão pela história e a atração pelo movimento das ruas, pela boemia, e faz destas crônicas um desfile apoteótico: que começa no carnaval e só termina no ano novo. Esta riquíssima seleção – de fina ironia, irreverência e brasilidade – é um presente à cultura popular. Nela, Simas apresenta um Rio não para chamar de seu, mas para chamar de nosso, de coisa nossa.

 

Crônica • 139 páginas • Editora José Olympio • Compare & compre: Amazon , Saraiva, Submarino • Classificação 5/5


 

Início essa resenha com uma frase do grande poeta da Vila, Noel Rosa, que também marca a orelha deste livro, ''O samba, a prontidão e outras bossas são nossas coisas, coisas nossas!'' Resumindo assim tudo que é tocado ao longo dessas 139 páginas de histórias da Cidade Maravilhosa. Mas esse não é um livro de crônicas qualquer sobre o Redentor e a praia de Copacabana. É um livro sobre os avessos, as frestas, o calor e os sabores da cidade, descortinados pela narrativa das vivências do historiador Luiz Antonio Simas.


Coisas Nossas é um livro sobre gente. Gente com ''G'' maiúsculo, pois são os que dão cor à cidade do Rio, que fizeram dela o que é hoje e que, infelizmente, são apagados da história da cidade. Várias páginas dedicadas ao que faz do Rio, em especial à Zona Norte e o Subúrbio, o que são, falando de carnaval, costumes, celebrações, religiosidade e encruzilhadas.


 

''O carnaval, afinal de contas, é o tempo necessário da subversão, na fresta, dos dissabores do cotidiano pelas alegrias da festa; a maneira mais eficaz que conheço de reinventar, sorrindo nos infernos, a vida'' (p. 16)

 

O livro nasceu de uma série de textos publicados pelo autor em coluna semanal no jornal O Dia ao longo de quase dois anos, alguns circulam pela internet da vida e outros são inéditos. Parafraseando o autor: ''Todas elas, de certa forma, falam a partir da fronteira entre a crônica e a História sobre a vida que acontece nas ruas, entre festas, folguedos, brincadeiras, celebrações e miudezas''. 


Como boa pesquisadora de escolas de samba do Rio de Janeiro que sou, Simas é um historiador que faz parte dos meus dias, chegando primeiro por seus vídeos de palestras no Youtube e seu irreverente Twitter, e agora, em livro físico. Coisas Nossas foi o primeiro livro do autor que li e me permito dizer, que além do samba e da bossa nova, ninguém narra melhor a cidade do Rio e suas frestas do que o autor. 

 

''[...] há um Rio de Janeiro que ainda pulsa nas maneiras que a nossa gente ferrada encontrou para dar sentido - pela festa, pela devoção e pelos corpos em transe - à vida'' (p. 119)

 

Ao longo dessas páginas me diverti e me emocionei, descobri causos que tomei como verdade, e agreguei ainda mais histórias para o meu repertório de criança nascida na Baixada Fluminense, mas criada no interior do estado. Minhas crônicas favoritas são ''Samba no sufuco'', ''Dia de santo na cidade'' e ''O país do menino''. 


Esse é um daqueles livros que só lendo pra sentir. Ou só vivendo o Rio em sua totalidade.

 

Sobre o autor

Luiz Antonio Simas

É historiador, professor e escritor. Autor de O Vidente Míope (em parceria com Cássio Loredano), Samba de enredo: história e arte (em parceria com Alberto Mussa), Pedrinhas Miudinhas: ensaios sobre as ruas, aldeias e terreiros, Almanaque brasilidades e Dicionário da história social do samba (em parceria com Nei Lopes), vencedor do Jabuti de melhor livro de não ficção de 2015.

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