Quando aprendi a ler foi o clássico ''agora lê até bula de remédio'', e eu realmente ficava lendo bulas e mais bulas de remédios para passar o tempo. Foi quando pedi a uma tia, que é professora do antigo C.A., para me emprestar um livro, já que não tinha mais bulas para ler. E foi assim que tive o meu primeiro encontro com a literatura através de A Ilha Perdida da Maria José Dupré, que faz parte da clássica coleção Vagalume. Desse dia em diante, foram milhares de histórias e sentimentos transcritos em inúmeras páginas. E me permito ser clichê ao dizer que os livros mudaram minha vida.
Como sou a mais velha de 4 irmãos, me dei a missão de fazê-los gostar de leitura assim como eu, e de alguma forma, tem dado certo. O que acontece é que no ano passado tive a alegria de ganhar mais uma irmã, Cecília, que hoje tem um ano e alguns meses - mães, pais e responsáveis, por favor, parem de contar os meses das crianças depois que se faz um ano, isso é muito difícil. E como não poderia ser diferente, também tenho me esforçado para fazer dela uma grande leitora. Só que agora, com 20 anos, a forma de enxergar a literatura e o mundo são diferentes, e como boa virginiana que ama listas e muitas explicações, tenho mergulhado no universo dos livros infantis e os seus porquês. E assim chegamos a esse post, ou melhor, a essa série de posts.
''Lendo Para Crianças'' será a nova série de posts de blog, onde vamos falar sobre livros infantis, sua importância, projetos literários voltados para crianças, conhecer autores e mais um monte de outras coisas. A ideia nasceu junto com a Cecília, sem eu nem saber, e veio se firmando através das minhas pesquisas na faculdade que envolvem crianças, educação, histórias e muito samba! Parafraseando Choque de Cultura, AQUI TEM INFORMAÇÃO! E informação com base em muitas pesquisas. Nesse primeiro post falaremos sobre os motivos de ler para criancinhas! Espero que gostem.
Por que ler para crianças?
O prazer de compartilhar momentos
Não há nada melhor nesse mundo do que compartilharmos bons momentos com as pessoas que amamos, e a leitura tem tudo pra ser um desses. Tirar um tempinho do dia para ler para crianças é enriquecedor para quem tá ouvindo a história, e principalmente, para quem tá contando. É um momento de criar e/ou reafirmar laços de carinho, compreensão, atenção, respeito e mais diversas outras coisinhas que nos são muito caras na relação com os pequenos.
A primeira história que li para a minha irmã foi da Dory, quando ela ainda tinha meses de vida. Nós estávamos deitadas na cama, e enquanto lia - ainda muito crua nesse universo de leitura para bebês -, ela falava - do jeito que os bebês falam - e ficava se mexendo. No início, achei que poderia não estar gostando e até cheguei a parar a história algumas vezes, mas atenta a tal cena, estava a minha avó, que disse que ela estava interagindo com a história e não, entediada. E assim, interagindo com a história, a gente ia fortalecendo nossos laços e o prazer de estarmos juntas naquele momento compartilhando de algo.
Conhecer o mundo
O universo dos livros nos levam a muitos lugares. Sinto que conheço vários países, universos distópicos, florestas mágicas e até mesmo o espaço, tudo através da leitura. E com as crianças, isso não é diferente.
As histórias levam os pequenos a conhecer o mundo, entender que antes deles nascerem houveram outras pessoas que criaram e fizeram coisas, e que foram importantes. Além disso, ter conhecimento do lugar onde está inserido, ajuda a ter um conhecimento maior de si, e com essas duas ferramentas, é possível imaginar e criar um lugar melhor para vivermos.
Encontro de ecos de sentimentos que ainda não conseguem explicar
Diferente do que muitos dizem, a criança não é tábua rasa, ela é um ser, cheio de sentimentos e que muitas vezes, por não conhecê-los, não sabe como lidar, exemplos são tristeza, raiva, ciúmes, alegria, euforia e etc.
Segundo o pesquisador colombiano, Evélio Cabrero Parra, os bebês fazem projeções por meio do que escutam, e é assim que as obras entram em diálogo com a psique. Mesmo que todos esses sentimentos estejam presentes na criança desde seu nascimento, ainda não se fazem presentes culturalmente em suas vidas, por isso, o diálogo com histórias que abordem temáticas relacionadas as suas fases da vida, permite com que entendam, lentamente, o que estão sentindo.
Construção da linguagem
A linguagem cotidiana, muitas vezes repleta de expressões de ordem como ''Venha aqui!'', ''Coma isto!'', ''Guarde isso!'', é muito pobre e não deixa espaço para a escuta, já que está contida, em sua maioria, de ordens. Entretanto, durante a leitura, as crianças vão criando a sua capacidade de ouvir, ao observar os gestos e feições do leitor, o que os ajuda a construir linguagem.
Cabrero Parra, diz que nós falamos porque roubamos coisas da voz de nossos pais para construir nossa própria voz, portanto, o ato de escuta durante a leitura é uma forma de construir essa linguagem desde a primeira infância. A linguagem é a matriz simbólica da construção do sujeito.
E aí, o que acharam do primeiro post? Tem mais algum motivo para a lista? Deixa aí nos comentários! E acompanhe a nossa série que está só começando!